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antigae/chronicae/2014MAR02-Turmalina.txt
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antigae/chronicae/2014MAR02-Turmalina.txt
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Turmalina: idas e vindas, vida e volta ao Bofiglioli
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Quando me mudei à Turmalina, havia, ali, um dos últimos lugares em que puder ser eu mesmo. Meu jeito por vezes sério, por vezes pueril encontrava ali energia para todos os ânimos: Turmalina era um dos últimos lugares em que era possível ir à padaria para comprar pão e leite tipo A; era um dos únicos lugares em que, até duas da manhã, nada mudava muito em relação às seis da tarde.
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Claro, digo duas da manhã porque não estava lá para ver se o movimento continuava, pois, dizem, "nada acontece de bom depois das duas da manhã" -- e não me faltaram situações para aferir a veracidade desse ditado, entretanto, nenhuma fôra em Turmalina.
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Os moradores eram gente pacata, mas havia algo na Av. Giovanna Cabral que tornava Turmalina um ícone boêmio, além de seu nome digno de música: as casas de show. Não era possível falar muito em bares, pois "a Cabral", tal como referida pelos moradores e frequentadores, era um baluarte da arquitetura neoclássica e a prefeitura proibira modificações -- e ainda havia um rígido conjunto de regras sanitárias e estéticas ditado pela subprefeitura.
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Lembro-me bem da Rosa Púrpura da Alves, situado na intersecção entre a comercialmente movimentada Av. Maria Martha Alves e 'a Cabral'. O lugar tinha nome de bar de português, mas, se bem me lembro, o Marquito -- proprietário do estabelecimento -- era de Valência. As mesas eram cobertas com toalhas de pano esburacadas que só se justificavam perante as regras da prefeitura a título de estilo, somado ao fato de que a cultura dos fiscais não os permitia aferir se batia com a arquitetura oitentista do restaurante.
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Sentava-me ali, duas fileiras para trás do palco. Geralmente, acontecia, em dias chuvosos, de alguns bêbados se alojarem da tempestade ali dentro e cinco minutos depois começarem a sapatear no palco de forma grotesca e sincrética, criando, assim, um evento humorístico que provavelmente só existia em Turmalina. O chopp do Rosa não era algo necessariamente bom, nem lá muito barato, porém sempre havia alguma batida de vodka apenas para passar o tempo, quando o estômago fizesse cara feia para o copo semi-cheio ou semi-vazio padrão alemão estacionado sobre a mesa.
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Da janela larga e um pouco suja de gordura dava para ver as trincas nas calçadas e, eventualmente, alguém tropeçando nela, mas sempre levantado aos risos. Poucas vezes vi em Turmalina alguém que não soubesse sorrir de modo alegre e debochado, a menos que fosse algum mafioso (mas estes, geralmente, usavam gravatas ridiculamente coloridas, tornando-os fáceis de se identificar). Os carros eram do ano, e as pessoas se vestiam conforme a época, embora não como ditava a moda. E raramente via-se alguém acompanhado, porém sem conversar.
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Pagava a conta, saía e olhava os casais andando de mãos dadas, ou se pegando nos cantos. Era engraçado como alguns quase se engoliam durante os beijos, mas isso não parecia incomodar. Os moradores até diziam que era melhor alguns tropicalies (uma gíria local para malandro de praia que só vê praia no fim de semana mas que mesmo assim está sempre vestido para a finalidade de pisar na areia molhada) se engolindo do que aparecer algum triângulo amoroso francês com a baguete debaixo do braço -- "esses casais são a marca do nosso 'foda-se'".
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Os tropicalies, entretanto, mesmo andando de bermuda ou saia, geralmente usavam chapéu tipo Panamá e óculos de sol RayBan, pois faziam questão de se integrarem à elegante paisagem.
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A luz de turmalina exige um parágrafo a parte. Ali não ventava muito, e no calor era, às vezes, infernal. Eu morava em um flat (em um estilo, hoje, seria visto por uma construtora como um duplex de luxo) de janela grande para "a Martha Alves", aquela avenida que falei mais para cima, e via o sol entrar pela janela do mesmo jeito que via banhar a praia de uma cidade costeira. Faltava, porém, a brisa, e, eventualmente, a praia.
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Acontece, entretanto, que as coisas mudavam. Eu mesmo mudei. Mudei para uma casa térrea, em uma transversal da Av. Martha, a Rua Tapioca Chinesa. Essa rua tinha um intenso tráfego de ônibus a diesel, articulados e convencionais. Era infernal dormir depois das 4 h AM, porém havia mais espaço e estava, na época, tentando morar com uma mulher um tanto quanto neurótica chamada Laura. Gostava dela, mas fui praticamente empurrado do flat para lá, pois a mocinha sabia bem que sozinho não iria sair do flat.
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Laura conseguiu, com isso, me privar do pequeno escritório do flat, me jogando em um quarto para a rua com uma cama de casal e tudo do escritório aglomerado em volta. Não era possível usar o outro quarto (mais tranquilo, e com vista para o quintal) porque a sogra se instalara ali. Durante esse tempo, então, produzi pouco e também pouco observei. Quando menos me dei conta, tudo tomava uma forma metálica de alumínio contínuo e reluzente em direção ao céu.
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Vi, então, que Turmalina virava uma Berrini. Deparei-me com o proprietário do Rosa fechando a casa e me informando que estava bem pago para viver sem restaurante para resto da vida, embora afirmasse que iria sentir saudades dos clientes. Os vidros altos e os entalhes na pedra das fundações e estruturas fôra substituído por prédios de brutal concreto ou de alumínio reluzente, de formas quadradas.
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Aquilo era sufocante. Até o prédio em que tive meu flat estava, segundo falavam, em vias de ser vendido à Mendes Sá, a construtora mais famosa da cidade, na época.
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Minha cabeça não processava mais dados ou informações. Tudo era espanto, fora de casa. E dentro, bem, acho que não tinha casa, afinal. Na calada da noite, botei meus livros favoritos, trabalhos, máquina de escrever e computadores no porta malas de minha banheira sobre rodas e mandei-me para o Bonfiglioli.
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Morei lá durante bastante tempo. E, novamente, tudo mudara. É bem verdade que o traçado das ruas e vários conjuntos de casas eram basicamente os mesmos, mas a Av. Corifeu tinha, agora, três faixas em cada sentido e mais uma de estacionamento. Instalara-se um corredor de ônibus, no canteiro central da avenida, e os trólebus subiam em direção ao Terminal Vila Yara, em Osasco.
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Sim, era bonito, os postes da fiação tinha design simples e moderno, mas sem serem espalhafatosos. Havia árvores grandes traçando sombra sobre a avenida. Mas aquilo não era mais meu bairro. Havia prédios -- ou melhor: caixas de fósforo empilhadas -- por todos os cantos da avenida, e a esquina com a Praça Elis Regina era, agora, marcada por placas indicando caminhos em direção à Raposo Tavares.
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Fiz a conversão, entrei na praça. Agora, a praça tinha uma mão de cada lado, sendo canteiro de uma avenida. A avenida, então, continuava para onde havia um conjunto habitacional, em direção à Raposo. Vendo aquele trevo rodoviário, de longe, compreendi que muito do que conheci já não existia mais.
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Entretanto, ainda via alguma vida lá. E os imóveis, embora simplórios e coalhados de apartementos pequenos, ainda representavam mais variedade e cores do que aqueles que se viam em Turmalina.
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Me hospedei na casa de um amigo que morava por aquelas bandas e, como não ia lá há tempos, perguntei o que ocorria. Responde-me ele que aquilo tudo fôra consequência da mudança de zoneamento e alta demanda por parte das construtoras devido à construção de uma estação de metrô no Largo do Bonfiglioli.
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Walfredo, esse meu amigo, ainda me disse que lá para cima até as ruas estavam irreconhecíveis, embora tudo fosse bonito e arborizado.
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Conformei-me.
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Aguardei pela noite. Fiquei a observar o movimento. Tudo era entra e sai dos prédios e tráfego entre Raposo e Corifeu. Às dez, tudo começou a silenciar. Só então dei de ombros, ri e notei que, no fundo, o bairro não perdera sua vocação suburbana e achei ali, em um dos maiores defeitos do bairro, a identificação com uma parte de mim e da minha vida.
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Quiçá vivamos só dos defeitos!
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Se orientando[^1][^2][^3]
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Era o tempo da copa. Os gringos chegam, e é um tremendo vai-e-vem de táxis e
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carros alugados. A cidade se estende mar de morros adentro, são doze milhões
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de habitantes em seus seis milhões de veículos. Entretanto, seis milhões sem
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carro não é baixo número: imagine todos esses seis milhões pendurados nos
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"seca-subacos" dos ônibus da cidade. Três milhões deles, sabe-se usam os
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mirrados quilômetros de metrô que a cidade tem, e o resultado disso não se
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deixa negar pelas fotos publicadas nos jornais, vez por outra,
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na eventualidade de uma falha.
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Mas para onde vão? De onde vêm? Do que vivem? Ora, alguns fingem que
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estudam, outros fingem que trabalham, outros, mais honestos, se
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deixam confessar que vivem pelo smartphone. Porém, passear com o
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smartphone não é tarefa simples, em uma cidade tão grande. Quer ir
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à Rua Sete de Abril para obter o assalto perfeito? Ali passa o
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Estação da Luz. Quer ir à Santa Ifigênia? Ali passa o Praça Ramos.
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**Mas, espere!** O que é esse tal de "Praça Ramos", um pobre incauto
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poderia perguntar, com seu tablet debaixo do braço, pronto para
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uma leitura de um livro do Paulo Coelho. Você, paulistano da gema,
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responde maquinalmente: 8707[^4].
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E o que é esse diabo de 8707? O paulistano apressado aponta para
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um ônibus laranja e segue seu caminho antes mesmo de dizer
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"Boa tarde". Parece fácil, mas as linhas de ônibus não vão de
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um ponto a outro, apenas. Passam por uns, perpassam outros. É um
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zigue-zaque de um zique-zira danado. E quem explica? Freud sentiria
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dificuldades, ao desembarcar no Terminal Santo Amaro.
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Por que tantos números, placas, códigos?
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O sistema de ônibus de São Paulo é uma equação de enésimo grau que
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nem Pierluigi Piazzi resolve. Aliás, ao que sabe, nem a equipe da
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gestora de transportes poderia resolver, mesmo em equipe. O metrô
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é simples, cada estação é uma fanfarra de luz e gente bem sinalizada.
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Mas e um ponto? Um ponto é um toco de madeira espetado na calçada.
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Às vezes é uma suntuosa estrutura de metal. Mas e a lista dos serviços?
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Ninguém sabe, ninguém viu. O Zé Tião da Padaria vai saber te
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informar melhor, meu.
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Para começo de conversa, temos um sistema multicolorido no qual
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cada área tem uma cor, mas no qual, também, pode-se ver um ônibus
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da puta que o pariu extrema atravessando **numa boa** outra área.
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Esqueça a cor, certo? Vamos aos números. Aos milhões de passageiros?
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Não, meu caro. Há um código de quatro caracteres, exibido pelos ônibus.
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É o 8707 do qual você não entendeu nada. Desses quatro caracteres,
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temos o primeiro, que não quer dizer absolutamente nada, o segundo,
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que não diz lhufas, o terceiro, que não faz sentido e, por final,
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o quarto, que às vezes é uma letra, às vezes um número. E agora, José?
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Para Platão, a idéia de código é outra. Peguemos 828P, por exemplo.
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O oito é a área, o dois é alguma distância aleatória que o burocrata
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pegou e o oito é, em tese, a área final. "P" é um ponto importante
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no qual ele passa. Na prática, isso funciona: Lapa (área 8) -> Barra
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Funda (área 8)[^5], via algum lugar que comece com P (ou tenha P como
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letra marcante). Às vezes também pode ser a inicial da paixão do
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burocrata que criou a linha ou do filho mais novo dele. Se temos
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quatro dígitos numéricos, a linha é daquelas que dão volta dentro
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do bairro ou vão parar em algum lugar do centrão, nesse caso, o
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primeiro dígito é a área de partida, o segundo é geralmente "zero"
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e os outros dois definem onde o busão para, se é ao lado do mendigo
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conhecido ou se é do lado do prédio precisando de reparos.
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Brincadeiras à parte, há, claramente, um critério para tudo isso.
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Mas a prática é que esse sistema foi criado na gestão de Olavo Setúbal
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lá pelos idos de 79 e sobreviveu à diversas mudanças no sistema.
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How come? Ora, se você já tinha trinta anos em 79, deve ter odiado
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saber que seu ônibus "666" virou "866B" ou algo do gênero. Eram nove
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áreas, tudo era bonito e fazia sentido. E se não fizesse, a CMTC
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fingia que sim. Entretanto, das nove áreas, fizeram quatro. E das
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quatro fizeram oito, algum tempo depois. E em meio a esse samba
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do criolo doido, mantiveram o sistema, pois o João da Silva que
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pegava o 666 detestaria descobrir que o seu ônibus virou 4-066X.
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E as cores? Ah, as cores, que pedi para esquecerem. Doutor, veja
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bem: não é que devem ser esquecidas, mas somos latinos. Como bons
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latinos, somos especialistas em produzir nuanças gritantes, por
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mais paradoxal que isso seja. Mas, ora, doutô, somos o paradoxo!
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As cores remontam, também, ao Olavo Setúbal. A mixórdia de
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concorrentes, coloridos e outros tipos precisou parecer mais
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oficial, daí tiveram a idéia de estipular cores para cada uma
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das nove áreas, sendo que os ônibus seriam pintados no esquema
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saia e blusa, tendo a saia na cor da região. Ainda havia um sinal
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forte de que o ônibus era de tal ou tal companhia. Isso, porém,
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se extinguiu por completo quando a Erundina resolveu concorrer
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com o Serra e vender seus próprios remédios: aquela famosa
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pintura da faixa vermelha.
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Agora todos sabiam que o "Transporte é um dever do estado e um
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direito do cidadão". Difícil mesmo era saber de cara quem era o
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filho da puta que operava aqueles ônibus malacafentos cheios de
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barata ou daquele desgraçado que não pára nos pontos nem com o
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ônibus vazio. Impossível era saber, então, de rabo de olho, se
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aquele ônibus vai para o INOCOOP ou se te levava para as
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profundezas do Capão Redondo.
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Foi assim por longo tempo. Havia variações, como a faixa azul
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para os ônibus de cooperativa, bem como a faixa verde, para os
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carrões bem motorizados, resistentes e geralmente usados nos
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corredores criados por Setúbal (somado a uns já projetados, porém
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mal implantados). Entendeu? Esqueça tudo. Agora temos novamente
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quase nove áreas, porém menos uma. São oito, e listar aqui dará
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sono. Jogue no Google Images: "Áreas São Paulo". A oitava área é
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laranja, daí o exemplo do 828P e 8707. Agora sabemos para onde o
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ônibus vai, embora continuems sem saber de cara quem opera o carro,
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já que agora é ainda mais fácil de se esconder o logotipo da empresa.
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E aí chegamos ao problema do "doutô", ali acima: você pode estar em
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um ponto de ônibus na Raposo Tavares, em plena área oito, e ainda
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sim vir passar um ônibus verde escuro, indo ao Ipiranga (mas na
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verdade vai além e finca sua estaca no Sacomã).
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O fato é que não há verdade quando se fala no sistema de ônibus
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paulistano. Quem conhece, conhece por meio do empirismo. A falta
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de carro e metrô é um bom meio de treinar os usuários. Os corredores
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existem, sim, mas não levam objetivamente de um ponto X ao Y.
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Experimente pegar um ônibus qualquer no meio da Rebouças. Você
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pode chegar ao Paraíso, à Liberdade ou ao inferno (também conhecido
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como Praça da República). O resultado da aleatoriedade é inversamente
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proporcional ao destino em que você precisa chegar.
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E, enfim, jogando os dados no tabuleiro e anotando os resultados é
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a melhor forma de se andar por aqui. Há um amigo meu que tem algo
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chamado “ansiedade social” ou, em outras palavras, timidez para
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falar com outros humanos que não os de sua própria manada, sei
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que ele jamais perguntaria ao seu Zé da padaria. Carajaense da
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gema, dois, três anos de São Paulo e uma dose de sorte é tudo o
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que tem nas mãos, depois do confuso site de nossa caríssima gestora
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de transportes. E, como se não bastasse a multicolorisse, ainda há
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ônibus prateados, há ônibus intermunicipais e diversos outros tipos
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de transporte de massa sobre pneus que chamam por aí de micro-ônibus
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(costumo chamá-los de escória).
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Segue assim, que de bar em bar ou de barra em barra, Deus que protege
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aos bêbados e desamparados cuida de levar seus escolhidos para casa.
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Caso você ouça AC/DC é provável que seu destino seja forçosamente
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Itaperica da Serra, então sempre é prudente mencionar que estamos
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falando de um Deus cristão, entendem? Veja ali: aquele ônibus é
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abençado por Deus -- "Deus é fiel". Tão laico quanto o sistema da
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cidade é impossível, já que os ônibus são de Deus, os usuários de
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Judas e o sistema de Satanás. Aonde quer que você vá, bíblia e
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candelabro debaixo do braço e lá te vejo! Boa viagem!
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||||
[^1]: Também publicado [https://blog.tadeu.org/2014/10/oriente-se.html](aqui)
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||||
[^2]: Revisado para arquivamento no dia 22 de janeiro de 2022, portanto
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||||
podendo diferir um pouco da versão mencionada na nota anterior
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||||
[^3]: Por ser baseado numa versão anterior, não contém todas as modificações
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feitas ao texto publicado no weblog.
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||||
[^4]: Incorreto. A linha em questão é a 8705/10, como apontado, à época, por
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Pedro L. N. Christensen
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||||
[^5]: Tecnicamente, apesar destas áreas (Lapa e Barra Funda) pertencerem à
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||||
Zona Oeste, os burocratas amam dizer que esta é, na verdade, a tal
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||||
área nove, uma estrovenga que abrange toda a região entre rios até o Brás,
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||||
Sacomã e Campo Belo. O número era (a linha não mais existe), portanto, um
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legado. Um melhor exemplo seria 809P (Campo Limpo, área 8 até Pinheiros,
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área 9), sendo P uma forma de distinguir esta linha das outras 809x. De
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qualquer modo, esta continua uma gambiarra e os critérios ainda não são
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nem um pouco claros.
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antigae/poesis/2014MAR09-Ruptura.md
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antigae/poesis/2014MAR09-Ruptura.md
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Ruptura
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-------
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Voam e revoam bits e bits
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Envelopes cerrados com clips
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Dia comercial, veias fervem
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Sorrisos largos aqui e além
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O coração pouco se contém
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O pulso vivo vai bem além
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Três cartas em uma tacada
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Sequer via a luz à sacada
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Até que do céu zarpe o sol
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Não notava estar num anzol
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Pescado na expectativa cru
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De ir além do rio de Embu
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Mascava o anzol artificial
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Pensando ser normal, legal
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Tudo morria na cálida tela
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E viu no átrio vazio a vela
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O cético com cérebro na tina
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De um cientista de esquina
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Viu naquela tela brilhante
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falta de Descartes na estante
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Fez-se grande em fantasias
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Viu-se parco em entrelinhas
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Achou-se grande e importante
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Mas era só um verme arrogante
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portugues/passio/2022NOV23-AvessaMusa.md
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portugues/passio/2022NOV23-AvessaMusa.md
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# Avessa Musa
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Sei lá que diabos sinto por ti, minha torta musa. Será o rabo, afinal? Vá lá
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saber. Mas não sou de tomar rabo pelo todo e fazer da carne objeto de paixão.
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Que não me entendam mal, à falha mente humana a estética é importante e disso
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não me aparto. Aprecio, sou franco. Mas não é o todo. Há de ser algo mais!
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O que há de ser, contudo? Há uns poucos anos, ao te conhecer, em meio aos
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convolutos rolês, eras tu a estranha musa, de esquisito sorriso
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e reticente retórica. Vi -- quiçá naquela atrapalhada risada? --
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um motivo e meio para gostar de ti. Amo? Não sei, talvez não.
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Gosto. Está bom assim.
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Ainda assim, não sei como gosto e de que gosto. Por motivo que escapa à razão,
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vi em teu cerne algo que me saúda e me toca, para além dos destrambelhos, dos
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erros linguísticos e das histórias de relacionamentos malogrados. É uma falha
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no sistema. Ter este “crush” em você é como preferir a estrada de cascalho à
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ferrovia.
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Quiçá seja só o desafio em gostar sem ser retribuído.
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Outrora já me disseram que só têm a meu coração aquelas que me desprezam.
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Verídico, talvez. Mas as musas que antes pus no pedestal tinham, todas,
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encantos que podia entender. Não tu. Nada se explica.
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Meus lábios clamam pelo teu, musa, e isto é tudo o que sei.
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